quinta-feira, 23 de julho de 2009

Trabalho Imaterial



A economia do conhecimento que atualmente se propaga é uma forma de capitalismo que procura redefinir suas categorias principais – trabalho, valor e capital.
O trabalho imaterial compreende os trabalhos que resultam em produtos imateriais, isto é, da ação do intelecto e de afetos. Nova na argumentação é a tese de que o trabalho imaterial é atualmente hegemônico aos demais trabalhos. Nos séculos XIX e XX, o trabalho industrial foi hegemônico e impôs sua lógica, como tendência. Ao final do século XX, o papel de hegemonia passa para o trabalho imaterial, que, de certa forma, modela e transforma todos os demais tipos de trabalho.
Antes mensurado em unidades de tempo agora é determinado por componentes comportamentais. As relações salarias convencionais foram desfeitas e o trabalhador passou a ser uma empresa, deixou de ser explorado para se auto-explorar e a auto-comercializar seu potencial de trabalho. (Gorz, 2003). Esse é o contexto em que se insere o trabalho imaterial dentro do conceito de sociedade pós-industrial.
Os trabalhos imateriais são produtivos e produzem valor. Mas esses valores não se deixam mensurar pela medida de tempo de trabalho médio socialmente necessário, critério empregado para definir o conceito de valor de troca. A dificuldade em mensura o trabalho imaterial não é um problema específico da teoria do valor, mas também da economia capitalista. Como remunerar uma atividade do intelecto? Qual a correspondência em dinheiro de um produto intelectual ou de um produto afetivo? Para solucionar o impossível, as empresas, os grandes negócios e os governos pagam de acordo com horas trabalhadas, parâmetro que conduz a consentimento e a acordo. Não deixa de ser uma arbitrariedade, uma postura descabida pagar segundo uma medida aquilo que não tem medida alguma. Em seu limite, o argumento conduz à idéia de que nenhum trabalho é remunerado adequadamente, mesmo aplicando-se o critério de tempo médio socialmente necessário. Nenhum trabalho material reduz-se apenas a uma operação manual, a um movimento do corpo. Mesmo o trabalho mais material contém a participação incomensurável do intelecto e do afeto do trabalhador, os quais não são mensuráveis pelas horas ativas. O trabalho é imensurável. Como estabelecer, portanto, o critério de sua remuneração? Possivelmente, o critério deva ser procurado em outras paragens, como a necessidade, a remuneração suficiente e adequada para o ser humano viver ou a repartição igualitária da riqueza geral produzida pela sociedade entre seus membros numa perpesctiva utópica de solução.
A tese do trabalho imaterial não se descola da teoria do valor trabalho. Antes, expande-a, alarga-a e permite alcançar as bordas de ação do ser humano em suas capacidades físicas, intelectuais e afetivas, retendo no cerne a proposição de que em torno do trabalho travam-se as lutas sociais.
Trabalho imaterial: ”Forma de trabalho que cria produtos imateriais, tais como saber, informação, comunicação, relações ou ainda reações emocionais” (Hardt & Negri, 2004).

Na maior parte dos trabalhos imateriais, estas duas dimensões estão associadas. Além disso, o trabalho imaterial está quase sempre misturado a formas de trabalho material: os trabalhadores da saúde, por exemplo, preenchem tarefas afetivas, cognitivas e lingüísticas, mas também materiais, como puncionar uma veia ou trocar curativos...
“É preciso insistir sobre o fato que a atividade implicada no trabalho imaterial permanece, ela mesma, material – ela engaja nosso corpo e nosso cérebro, como todo trabalho. O que é imaterial é seu produto. E, desse ponto de vista, nós admitimos que a expressão ‘trabalho imaterial’ é bastante ambígua. Talvez, por isso, seja preferível falar de ‘trabalho biopolítico’, isto é, um trabalho que cria não somente bens materiais, mas também relações e, em última instância, a própria vida social.” (Hardt & Negri, 2004).
Toda essa teoria nos leva a crer que a sociedade, como era visto por Marx, está em processo de extinção e junto com ela o trabalho assalariado. A sociedade pós-industrial estaria em processo de revolução, uma revolução pacífica e inevitável, porém o que pode-se observar é que o trabalho assalariado cresce cada dia mais em todas as área inclusive nos serviços, de forma mais agressiva nos países em desenvolvimento e de forma mais “branda” no países desenvolvidos que possuem legislação trabalhista mais coerente com sua realidade política. A revolução do saber já está acontecendo mas os benefícios socias professados por teóricos do sociedade pós-industrial ainda não puderam ser vistos em larga escala. A revolução que supostamente estaria acontecendo de forma inevitável e natutal talvez seja apenas uma teoria enviesada pelo desejo ou simplesmente ainda esteja para acontecer. Só o tempo dirá quem está certo.

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